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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

TRIM... TRIM... TREC...



TRIM... TRIM...TREC...

Trim... trim... trim, curvado no guidão, lá se vai o ciclista. O trec é o barulho de um defeito de sua bicicleta – um defeito que ele não teve tempo de consertar. O trim... trim... da campainha, tenta de todas as formas abafar o ruído da cidade grande, da avenida movimentada. Como um mensageiro esperado, ele entrega de casa em casa, o jornal, ora matutino, ora vespertino, recheado de notícias, boas e más, mas, mais más do que boas. As manchetes dilatam as pupilas dos transeuntes, aguçando-lhes a curiosidade, fazendo-os parar na primeira banca e comprar o seu.
E lá se vai o ciclista, com o seu trim... trim..., costurando o trânsito, desviando de fininho dos caminhões, avançando o sinal na certeza de ser um campeão da pista, um gênio, um ás do pedal... De repente, um chio de pneu e ele apresenta o peito como pára-choque a enfrentar o coletivo lotado. Bicicleta para um lado, ciclista para outro.
Levanta-se o ciclista, sacode o pó, endireita o guidão meio retorcido e sai pedalando por uma estrada lisinha como o próprio pára-brisa do ônibus. Não via mais trânsito à sua frente, nem atrás, nem do lado. Não estava mais na contramão da vida e para onde ia era mão única, de ida, sem volta.
Ele vai pedalando suave, tranqüilo, pensando que ao chegar em casa, irá tratar do seu passarinho na gaiola, alisar o Pingo, seu cachorrinho de estimação, brincar com ele na grama fofa do jardim, enorme, sem fim.
No asfalto sujo e carvoento, as marcas de pneus e um punhado de jornais espalhados sobre uma poça de sangue, escrevendo a manchete do dia seguinte.


Esta estória faz parte do livro “Viagem, Contos & Crônicas”, de Josué da Silva Lucas 


Foto: http://www.online.sulbrasilis.com.br/wp-content/uploads/2008/10/ciclista-caindo-02-300x225.jpg

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