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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

NAVEGAR (E LER) É PRECISO


NAVEGAR ( E LER ) É PRECISO*

           De antigos navegadores, a frase que chamou a atenção de Fernando Pessoa, “Navegar é preciso, viver não é preciso”, dá ainda hoje seu recado. Para os navegadores, qualquer vida distante da navegação, essência das suas, seria destituída de significado.
O próprio Pessoa adaptou a frase ao modo de sua genialidade: “Viver não é necessário, o que é necessário é criar”. Também para ele nenhuma vida seria desejável se não incluísse a sua criação artística, porque pouco importa o que extraímos da vida se não a tornamos grande por vivê-la plenamente.
            Agora é, como nunca, momento de navegar – e de compreender quem somos e sermos em plenitude. Quanto mais experimentamos, física ou mentalmente, mais idéias temos sobre nós e o mundo. Limitados, entretanto, que somos, pelo nosso corpo – único – pela nossa vida – também única – pelo dia e pelo lugar em que nascemos, pelo lugar em que moramos, pelo nosso trabalho, religião, tipo físico, sexo, etc., não podemos obter uma vasta experiência pessoal e conhecer o outro lado da moeda, aquilo que não faz parte de nossas vidas, mas que revelaria uma outra face possível (?) de nós mesmos.  
         A leitura, por outro lado, é a possibilidade de contato com a experiência de pessoas mais cultas, mais vividas, de outra cultura, outra época e outra raça, sem a necessidade de sua presença física. A leitura possibilita o conhecimento de situações que podemos viver ou não viver jamais, mas que, conhecidas, ampliam os horizontes das nossas idéias e nos fazem grandes.
            Machado de Assis (para citar um outro escritor genial) chega a dizer que mesmo a leitura de um livro omisso é proveitosa se nos desperta para a navegação de nossos oceanos interiores: “Quando leio algum dessa outra casta, não me aflijo nunca. O que faço, em chegando ao fim, é cerrar os olhos e evocar todas as coisas que não achei nele. Quantas idéias finas me acodem então! Que reflexões profundas! 
        Os rios, as montanhas, as igrejas que não vi nas páginas lidas, todos me aparecem agora com suas águas, as suas árvores, os seus altares;  e os generais sacam das espadas que tinham ficado na bainha, e os clarins soltam as notas que dormiam no metal, e tudo marcha com uma alma imprevista...”. Percebem? A leitura nunca é dispensável. E este é o momento de navegar na leitura. Pois é preciso.
                                                                                  
*Jussara Neves Rezendeé doutora em Litreratura.


* Texto já publicado, revisto em Junho de 2009 pela autora.

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