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terça-feira, 3 de agosto de 2010

O QUEIJO MINEIRO (conto)





          Na década de 30 ocorreu um dos períodos mais difíceis do século XX. Após a grande depressão de 1929, quando o “crash” da Bolsa de Nova York provocou uma grande recessão em todo o mundo, houve um grande número de falências e o governo brasileiro optou por queimar mais de 80.000.000 de sacas de café, em uma tentativa desesperada de manter os preços do produto.
          Athaíde Pereira Dias, homem bom, trabalhador e honesto, proprietário de uma fazenda na Estação de São Tomé, município de Três Corações, não ficou imune a crise.
          Endividado, procurou junto a alguns amigos uma solução para não perder a fazenda. Conseguiu, através de um deputado, um empréstimo no Banco Hipotecário, no Rio de Janeiro.
          Havia apenas um problema. Em uma época onde não havia as facilidades das transações bancárias, teria que ir até a antiga Capital Federal buscar o dinheiro pessoalmente.
          Os amigos o alertaram no dia do embarque:
          -Cuidado, Athaíde! O Rio é uma cidade perigosa e você pode ser assaltado.
          -Não se preocupem amigos, eu sei me cuidar.
          No Banco Hipotecário, após assinar o contrato, o caixa trouxe um grande volume de dinheiro. Athaíde pediu que o caixa embrulhasse o dinheiro em um jornal, como se fosse um queijo mineiro.
          Saiu tranqüilamente do banco, com o seu queijo embaixo do braço, percorrendo as ruas do Rio até a Central do Brasil. Chegou até a presenciar pequenos furtos de carteiras, de turistas desavisados (com certeza não eram mineiros).
          Chegando em Três Corações, após pagar a sua dívida, foi com os amigos comemorar em um bar, a salvação da fazenda.
          -E aí, Athaíde! Não ficou com medo de ser assaltado?
           Após explicar como tinha feito para trazer o dinheiro, os amigos caíram na gargalhada e reconheceram que o mineiro era bem mais esperto do que os malandros que agiam na Capital.
          Para comemorar, nada melhor do que uma boa garrafa de vinho e como tira gosto, um queijo mineiro, desta vez de verdade.

 *Adalto Simoni Pereira é graduado em Ciências Sociais pela Fundação Educacional de Machado e Presidente da Academia Machadense de Letras (gestão 2010).

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