Seguidores

segunda-feira, 1 de julho de 2013

CROMATISMO BRASILEIRO (Olga Caixeta)


Gol! Gol! Gol! Foram três os gols que refizeram a circulação sanguínea do povo brasileiro. O tempo de expectativa foi intenso demais para nossas palpitações. A Espanha é um time sem fronteiras e vai ser difícil, mas... Deus é brasileiro.
Nessa hora todos demonstram seu amor à Pátria e até aprendem a cantar o hino nacional. Cantam como se estivessem rezando a oração do Pai Nosso. Mas, se Deus é brasileiro, quem será o Deus espanhol, o italiano, o uruguaio...?
Tenho cá comigo que baixou um santo no corpo dos nossos jogadores. Esse Neymarzinho não tem par: é ímpar na corrida, no manejo dos pés e até nas faltas escondidas que comete. O menino é imprudente de tão bom! Haja vista todos os comentários pós-jogo! Só falaram dele.
O Brasil parou, e ainda bem que era domingo! Todos livres para comemorar e bendizer. Imagino quantas latinhas foram colhidas para a reciclagem num só dia.
E haja ouvidos, nesta próxima semana, para ouvirmos todos os comentários que a  TV vai arrolar sobre o fato. E quem tiver os jornais impressos de segunda-feira não precisa comprar mais nenhum: a notícia é uma só _ Brasil...sil...sil...!!! (leia-se na extensão)
É mais uma manifestação, só que positiva, ou seja sem tropeços. Que não se misturem as coisas.
E depois de tanta expectativa, cada um volta para sua casa e os jogadores para suas origens ou nem todos, pois o nosso Neymar bate as asas e vai para a Espanha reconciliar-se com seus irmãos perdedores, mas próximos parceiros de buscas e conquistas.
É estranho pensar que, mesmo sendo tão bom, tem de fazer seu nome lá fora. Se que há outros apartes, mas são eles tão necessários mesmo ou é o lucro que grita mais alto?
Na época da escravidão,vendiam-se escravos e quem lucrava eram os seus donos. Nós até hoje dizemos oh! para o fato de se venderem homens.No entanto, no mesmo hoje é bem diferente: o objeto do negócio, o próprio homem, também lucra muito, então, ser vendido, nos nossos dias é substancialmente importante e gratificante.
E como valem os galgos de Diana! Não se contesta o negócio de hoje: como a vida de tais jovens muda!
O capital gira, crescem as possibilidades de as Ferraris saírem às ruas em maior número; de as mansões ganharem mais valor e as coberturas de luxo receberem mais observadores de estrelas. Nem coloco aqui o que isso tudo rende em conquistas.
Tudo vale no país do Carnaval. Ninguém se opõe às festas, ninguém grita se não for atacado, ninguém chora se não lhes cortam os salários. Não queremos ser incomodados.
Falamos que alguns jogos aqui no Brasil são proibidos: jogo do bicho, caça-níquel, e mesmo  briga de galo... eh,eh!! Proibe-se o que se quer proibir, desde que tal proibição não interrompa os interesses de alguns. O problema nem é o jogo, mas os alguns. Que morram os galos, que se cacem os níqueis, e que todos os bichos façam fila. Se caírem na rede é peixe.
O Einstein é que tem razão: tudo é relativo.
Contudo, e com tudo estamos felizes. Vencemos a Espanha, passamos às finais em bom tamanho, temos excelentes jogadores, estádios maravilhosos em que se gastaram bilhões, o trem-bala vai ficar pra depois ( não importa o que já foi gasto aí) e nenhum brasileiro ganha menos de 70,00 (setenta reais. Nossa miséria acabou e só poderemos agradecer a Deus tamanha glória.
Quem te ama, Brasil, não teme a própria morte, entoa o nosso hino, e nós vamos levando, com toda fama,com toda brama, com toda lama, pois, somos fracos no lápis, mas fortes nas pontas dos pés.
Que não é feliz é triste e quem não é triste é feliz. É o jogo dos contrastes que nos faz ganhar umas vezes e perder outras.
Não fosse Eva oferecer e Adão aceitar,estaríamos no paraíso. Mas viver na monotonia também, seria muito monótono...eh...eh...!!!Macacos me mordam se estou dizendo bobagens. Será que no paraíso eu teria o café da manhã servido e não teria de correr para aplicar prova às 8h. no CIC?
Será que no paraíso Neymar seria vendido para a Espanha? Em reais ou em euros?
Será que no paraíso haveria saqueadores oportunistas que matariam com bombas explosivas?
Será que no paraíso alguém teria de usar fardas para distinguir sua força?
São tantas as emoções, tantos os questionamentos...
Mas, não nos torturemos. Acabada a Copa das Confederações, o Brasil volta ao normal, as manifestações de rua evaporam-se ( quem sabe?) e nossa presidente pode continuar rezando suas regalias. Afinal, a miséria acabou e em 2014 teremos a Copa do Mundo, para valer. Ah! Isso depois do Carnaval.
Por que ficar pensando em Adão e Eva? Vamos festejar nossa vitória e começar os preparativos para o ano próximo. Compremos nossas camisetas novas e desfilemos nossas vozes em um tom original: “Sou brasileiro, com muito orgulho!”


*Olga Caixeta é membro da Academia Machadense de Letras

2 comentários:

  1. Concordo em partes ...

    "A miséria acabou..." ?

    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    Classe A ela né?!

    E se estivéssemos no paraíso, talvez não tivéssemos tantas injustiças como temos.

    Beijos

    ResponderExcluir
  2. Eu concordo com a Tamires... E o mundo se afunda em inconstâncias...
    Um abraço

    ResponderExcluir